segunda-feira, 30 de maio de 2011

Crer é prender?


A conflituosa relação entre as religiões e o livre arbítrio gera um questionamento: ao pregar a elevação da alma elas ferem os direitos do homem?

O homem sempre precisou viver respeitando determinadas normas e regras. As religiões estabelecem um modo de agir a todos os seus integrantes. Seja a Bíblia dos cristãos, o Alcorão dos islâmicos ou o Torá dos judeus, todos os livros sagrados propõem um modo de conduta a ser seguido à risca – e que, se violado, deve gerar punições.

A Bíblia Sagrada é repleta de orientações morais. As leis hebraicas estão presentes nas linhas da Sagrada Escritura. A formação do Direito, naquela época, seguia a lógica do castigo divino – o medo de Deus dava origem às regras de conduta, da mesma forma que agimos corretamente nos dias atuais baseados em regras do Poder Judiciário. As religiões, no entanto, apregoam que tais normas continuam em vigor.

Mas qual o direito de impedir alguém que transgrediu as leis milenares presentes nas escrituras de entrar na igreja e vivenciar todos os momentos do culto?

O Brasil, um país majoritariamente religioso, acaba atrasado em determinadas questões por sua população pautar-se nas leis divinas. Enquanto diversas nações aprovam o casamento entre homossexuais, a mera hipótese de distribuição de um kit anti-homofobia em escolas gera aversão e controvérsia. 

Embora segundo o Direito civil as pessoas têm o direito de relacionar-se com parceiros do mesmo sexo, muitos brasileiros utilizam a Bíblia como uma Constituição, apregoando que ali está escrito que o homossexualismo é pecado. Nessas situações, a religião limita o indivíduo e o conduz a agir de determinada maneira.

Por outro lado, mesmo em questões definidas pelas leis civis, as religiões podem ser repressoras. O direito ao divórcio é indiscutível, mas o adultério é intolerável nos princípios da fé, permanecendo como um ato que gera punição. Para a maior parte dos cristãos, acarreta em perda de alguns direitos na igreja; aos islâmicos, até mesmo o apedrejamento em nações mais extremistas. São duas realidades: enquanto a pessoa é apoiada pelas leis dos homens, ela é culpada nas leis divinas. 

Embora coexistissem na época das escrituras sagradas, as duas leis se diferenciaram com o passar do tempo. A Ciência dominou a vida dos homens, que criaram as próprias regras, delimitaram o certo e o errado. 

Mas, mesmo no século XXI, as religiões exercem uma forte influência nas pessoas, mantendo suas punições que, se não forem sofridas em vida, serão infligidas ou após a morte ou no Dia do Juízo Final.

A religião pode representar um fator ainda mais limitador, uma vez que pune até mesmo o pensamento humano, ao contrário das leis civis, que castigam as ações. O pecado inicia-se antes do agir.

A fé pode até mover montanhas, mas restringe o homem em todos os sentidos.
           
Texto: Daniel Sousa
Foto: sxc.hu

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